Carboidrato X gordura: os 2 vilões da dieta? Qual é mais saudável?

Carboidrato X gordura: os 2 vilões da dieta? Qual é mais saudável?

Qual é melhor para a saúde, o carboidrato ou a gordura? Tem mesmo que ser um ou outro?

Com a publicação do estudo PURE, em agosto de 2017, essa questão parece ganhar novas
resoluções.

 

Em uma leitura superficial, o estudo nos leva a crer que a menor ingestão de carboidrato
e o maior consumo de gordura diminuem os riscos de morte e de doenças cardiovasculares
significativamente. Essa conclusão reforçaria desmistificações em torno da gordura
saturada, mas abre margem para novos mitos em torno do carboidrato.

 

De fato, o tema é polêmico e cada nova descoberta adiciona mais combustível ao debate.
Mas a leitura científica cuidadosa nos poupa de sensacionalismos e evita que espalhemos
desinformação.

 

Quando fazemos uma análise mais criteriosa, vemos que as coisas não são exatamente
como andam espalhando por aí. Por isso, vamos averiguar, juntos, os dados levantados
pela pesquisa:

 

Carboidrato x gordura: o que o estudo PURE diz:

Publicado em agosto de 2017, em um dos periódicos médicos mais importantes do mundo,
o The Lancet, o estudo PURE (Prospective Urban Rural Epidemiology study) acompanhou
os hábitos alimentares de mais 135 mil indivíduos entre 35 a 70 anos, provenientes de 18
países (incluindo Brasil), ao longo de, em média, 7 anos, através de questionários.

 

O objetivo foi avaliar de que forma nossas escolhas alimentares influenciam no
desenvolvimento de problemas cardiovasculares diversos, bem como no risco de morte,
com foco no consumo de carboidratos e gorduras – os dois maiores alvos do
sensacionalismo alimentício.

 

Dentre as descobertas, os pesquisadores encontraram uma redução de 23% no risco de
morte por qualquer causa, associado à maior ingestão de gordura, em contrapartida com
um aumento de 28% do risco de morte por qualquer causa, associado à maior ingestão de
carboidratos.

 

A conclusão afirma: “O maior consumo de carboidrato está relacionado a maior risco de
morte por qualquer causa, enquanto o consumo de gordura, tanto geral quanto seus
subtipos, associam-se a menores riscos de morte por todas as causas.

 

Nenhum tipo de gordura apresentou relações com o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares, infarto do miocárdio ou risco de morte por doenças cardiovasculares,
enquanto a gordura saturada apresentou associação inversa ao infarto. As diretrizes
alimentares, portanto, deveriam ser revistas, em face dessas descobertas.”

 

A crítica do estudo está no consumo de carboidratos como principal fonte de energia dos
participantes. De acordo com os pesquisadores, os carboidratos representavam 60% das
calorias ingeridas por mais da metade dos voluntários, chegando a 70% para ¼ dos
voluntários. Tais casos foram referidos como dietas high carb.

 

Por outro lado, o consumo de gordura se manteve dentro das diretrizes, em uma média de
35,3%, quando o recomendado é entre 20% e 35%.

 

As conclusões que podemos tirar do estudo PURE

Em um primeiro momento, julgando só pelo título do artigo ou pelo resumo, uma conclusão
a que se pode chegar é: devemos comer menos carboidrato e mais gordura. E, em muitos
casos, é exatamente isso o que vem sendo concluído.

 

Contudo, se prestarmos atenção nos dados, veremos que o cerne da questão não é essa
disputa infundada entre carboidratos e gorduras, mas o desequilíbrio nutricional.

 

De acordo com as diretrizes alimentares vigentes, a ingestão de carboidratos considerada
apropriada corresponde de 45% a 65% das calorias totais. Sendo assim, segundo os dados
do próprio estudo, mais da metade dos indivíduos está dentro das diretrizes, de modo que o
aumento nos riscos associados à alta ingestão de carboidratos se limita àqueles que
ultrapassam os 65% das calorias totais. Ou seja, os riscos não estão associados
diretamente a dietas high carb, mas ao abuso de carboidratos.

 

Comparando um consumo excessivo de carboidratos com o consumo ideal de gorduras, é
claro que os resultados serão bem mais negativos para um lado.

 

Outras ressalvas

Além disso, o estudo não discrimina as fontes de tais nutrientes – que podem variar muito e
interferir nos resultados -, considerando a composição da dieta como um todo. O problema
disso é que podemos ter dietas variadas, umas mais saudáveis que outras, mas que, no
fim, resultam no mesmo índice de ingestão de gordura e carboidratos.

 

Afinal, o problema está na ingestão dos carboidratos – que podem vir tanto de cereais
integrais quanto de refrigerantes, por exemplo – ou no consumo de fontes de carboidratos
mais nocivas à saúde?

 

Quem consome uma quantidade X de carboidratos provenientes de fontes saudáveis corre
o mesmo risco do que quem consome a mesma quantidade oriunda de fontes não tão
saudáveis assim?

 

Essa questão não fica clara.

Também é admitido que o intervalo prolongado entre os questionários aplicados no estudo
abre margem para uma série de questionamentos.

 

Será que todo voluntário manteve exatamente o mesmo padrão alimentar durante todo o
período do estudo? Será que alguns pacientes não modificaram suas dietas justamente por
causa de um risco maior de problemas de saúde?
Isso tampouco é respondido.

 

Aspectos positivos do estudo PURE

Ainda assim, os resultados ajudam a reforçar algo que já havíamos desmentido: o consumo
de gorduras saturadas não incide sobre riscos de morte ou de doenças cardiovasculares,
desde que moderado.

 

Além disso, apontam para a necessidade de um plano alimentar equilibrado, para que não
haja o consumo excessivo, ou a restrição de um nutriente em detrimento de outro sem
necessidade.

 

O estudo não endossa, portanto, dietas em que o consumo de carboidrato esteja abaixo das
diretrizes, uma vez que o consumo mínimo considerado foi de 48%, muito menos a ingestão
excessiva de gorduras.

 

Assim, o mais saudável, mesmo, é o equilíbrio.
A recomendação é sempre consultar o seu médico especialista, para que ele elabore o
plano nutricional adequado às suas necessidades e aos seus objetivos. E, claro, ter bom
senso na hora de montar a sua alimentação!

 

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prezando por respaldos de qualidade e criteriosos.

 

FONTE: Associations of fats and carbohydrate intake with cardiovascular disease and
mortality in 18 countries from five continents (PURE): a prospective cohort study. August,
2017. The Lancet.

 

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