Existem dois tipos de gorduras trans: as naturais, produzidas no rúmen (primeiro
compartimento do estômago) de animais ruminantes, e as artificiais, resultantes de
um processo de hidrogenação industrial que transforma óleos vegetais líquidos em
gordura sólida.
As naturais são encontradas em alimentos como carne e leite, mas apenas em
pequenas quantidades, de modo que não invalidam os benefícios que a ingestão
desses alimentos pode trazer.
Já as artificiais (ou industriais) são comumente encontradas nos alimentos
ultraprocessados, tais como:
● refrigerantes;
● salgadinhos;
● bolachas recheadas;
● suco em pó;
● embutidos;
● macarrão instantâneo;
● refeições pré-prontas produzidas industrialmente;
● sorvete de massa industrializado;
● batata frita congelada;
● margarina;
● hambúrgueres de fast food;
● sopa em pó;
● mistura para bolos;
● tempero pronto.
E, ao contrário da gordura trans natural, a gordura trans artificial é encontrada em
grandes quantidades nesses alimentos, apresentando diversos riscos à saúde.
A história da gordura trans industrialmente produzida
A gordura hidrogenada – isto é, a gordura trans produzida artificialmente – começou
a ser usada em larga escala pela indústria alimentícia a partir dos anos 1950,
ganhando popularidade em meados da década de 70, depois que algumas
descobertas dessa época apontaram para os malefícios do consumo excessivo de
gordura saturada.
Ou seja, a gordura trans era, a princípio, uma “alternativa mais saudável” à gordura
saturada, mas hoje sabemos que as gorduras saturadas, quando consumidas
moderadamente e de acordo com as diretrizes nutricionais, não são prejudiciais à
saúde – ao contrário das gorduras trans.
Mais do que isso, até o momento não há nenhuma informação científica disponível
que associe benefícios à saúde a partir do consumo de gordura trans. Elas é muito
popular na indústria porque serve melhorar a consistência de alguns alimentos e
aumentar seu prazo de validade, oferecendo um melhor custo benefício.
Já as gorduras saturadas contam com algum amparo nutricional e podem ser
consumidas, contanto em quantidades que correspondam a até 6% da ingestão total
de calorias diárias.
Os malefícios da gordura trans industrialmente produzida
Dentre os malefícios à saúde, causados pelo consumo da gordura trans industrial,
podemos destacar:
● Aumento do LDL (conhecido como colesterol “ruim”) e redução do HDL
(conhecido como colesterol “bom”);
● Aumento do acúmulo da gordura visceral (associado a alterações
metabólicas, como resistência à insulina, e o desenvolvimento de diabetes
tipo 2);
● Aumento do risco de formação de placas de gordura nas artérias do coração
e cérebro, podendo provocar seu entupimento;
● Aumento do risco de doença arterial coronariana;
● Aumento do risco de desenvolvimento da obesidade e problemas
subsequente.
Além disso, recentemente, averiguou-se que o consumo excessivo de alimentos
ultraprocessados está associado a maior risco de desenvolvimento de tumores
malignos.
O estudo, publicado no British Medical Journal, verificou um aumento de mais de
10% dos casos de câncer, associado a um aumento de 10% no consumo de
alimentos ricos em gordura hidrogenada.
Embora não identifique a gordura trans como a principal responsável por esse
resultado, ela está incluída nos aspectos nutricionais apontados como
potencialmente danosos, de modo que não é absurdo pressupor uma associação.
O plano da OMS para acabar com o consumo da gordura trans
industrialmente produzida
Então por que, diante de todas evidências que temos, a gordura trans continua
fazendo parte da nossa alimentação?
É a pergunta lançada pela Organização Mundial de Saúde que, no dia 14 de maio
de 2018, publicou seu plano de erradicar a gordura trans artificial da indústria
mundial de alimentos.
O REPLACE, que visa substituir completamente o uso de gordura hidrogenada por
alternativas mais saudáveis na indústria alimentícia, fornece seis ações estratégicas
para assegurar a eliminação rápida, completa e prolongada das gorduras trans
produzidas industrialmente.
São elas:
1. Revisão das fontes de gorduras trans produzidas industrialmente;
2. Promoção da substituição de gorduras trans produzidas industrialmente por
gorduras e óleos mais saudáveis;
3. Legislação ou promulgação ações regulatórias para eliminar gorduras trans
produzidas industrialmente;
4. Avaliação e monitoramento do teor de gorduras trans nos alimentos e
mudanças efetivas no consumo de gordura trans pela população;
5. Criação e conscientização do impacto negativo que as gorduras trans têm na
saúde em meios aos formuladores de políticas populares, produtores,
fornecedores e o público, em geral;
6. Ênfase na conformidade das novas políticas e regulamentos concernentes às
gorduras trans.
A meta é uma das prioridades dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
ONU, que se comprometeu a reduzir dois terços das incidências de morte
prematura por doenças não transmissíveis até 2030.
De acordo com a OMS, a ingestão de gordura trans é responsável por mais de
500.000 mortes anuais em função de doenças cardiovasculares, de modo que sua
eliminação é fundamental para proteger a saúde e salvar vidas.
O que a OMS recomenda
A organização recomenda que a ingestão total de gordura trans seja limitada a
menos de 2,2 g por dia, o que daria cerca de 1% das calorias diárias, com base uma
dieta de 2.000 calorias.
Em países de baixa e média renda como o Brasil, onde o controle do uso de
gorduras trans produzidas industrialmente costumam ser mais brandos, são
necessárias ações mais assertivas da parte do governo e de órgãos de saúde para
garantir que esse consumo seja reduzido significativamente.
A sugestão é da OMS é que as indústrias recorram a alternativas mais saudáveis,
que, igualmente, não afetam o sabor ou o custo dos alimentos e são provenientes
de gorduras insaturadas, como o óleo de soja e o óleo de girassol.
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