A Organização Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos maiores
problemas de saúde pública no mundo – e o ambiente moderno como especialmente
estimulante para a obesidade.
Afinal, a diminuição dos níveis de atividade física e o aumento da ingestão calórica
são fatores ambientais determinantes e que vêm ganhando cada vez mais força
com o passar dos anos. Reflexo disso é um aumento significativo da prevalência da
obesidade em diversas populações do mundo, incluindo o Brasil.
De acordo com dados do Mapa da Obesidade da ABESO, a projeção é que, em
2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700
milhões, obesos.
Caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal em um indivíduo, a
obesidade é fator de risco para uma série de doenças e pessoas obesas têm mais
propensão a desenvolver problemas como hipertensão, doenças cardiovasculares,
diabetes tipo 2, além de problemas físicos como artrose, refluxo esofágico e
tumores de intestino e de vesícula, ou psicológicos, como depressão.
O PROBLEMA DA OBESIDADE INFANTIL
Como consequência de hábitos alimentares poucos saudáveis por parte de adultos,
e aspectos modernos que estimulam dietas compostas por alimentos ricos em
açúcar e gordura hidrogenada, a obesidade infantil se tornou uma preocupação de
saúde pública.
A prevalência global de sobrepeso e obesidade na infância tem aumentado desde a
década de 1990, e espera-se que aproximadamente 60 milhões de crianças tenham
obesidade em 2020.
Nos Estados Unidos, aproximadamente 32% das crianças e adolescentes sofrem
com excesso de peso; desses, 17% estão obesos, de acordo com o National Health
and Nutrition Examination Survey.
No Brasil, em 2016, 9,4% das meninas e 12,7% dos meninos estavam obesos. Sem
uma mudança de hábitos, até 2025 a obesidade pode atingir 11,3 milhões de
crianças no Brasil e 75 milhões no mundo!
E o mais preocupante é que, além de crianças com excesso de peso serem
significativamente mais suscetíveis ao sobrepeso ou à obesidade na fase adulta,
aumentando o risco de consequências adversas para a saúde, recentemente se
descobriu que o problema também pode comprometer a sua formação cognitiva.
OBESIDADE INFANTIL E PROBLEMAS COGNITIVOS
A obesidade está associada a efeitos negativos na cognição de adultos, pois
acredita-se que o transtorno provoca uma queda na ação da reelina, uma proteína
ligada à intensidade das sinapses, o mecanismo de comunicação entre os
neurônios.
Além disso, a desregulação induzida pela obesidade de hormônios do apetite, como
a grelina, pode ter efeitos prejudiciais na cognição, porque estes hormônios agem
em múltiplas regiões do cérebro que são relevantes para as habilidades cognitivas.
Em roedores, foi observado que tanto a obesidade quanto as dietas ricas em
gordura podem afetar negativamente o hipocampo – região do cérebro responsável
pela memória – e o aprendizado associado a essa região, como o desenvolvimento
de emoções e de noção de espaço, por exemplo.
Porém, até pouco tempo atrás, a associação entre obesidade e cognição em
crianças era menos entendida.
Apenas dois estudos haviam examinado o impacto da obesidade precoce na
cognição infantil; no entanto, ambos os estudos focaram apenas na primeira fase de
crescimento.
Dado que a cognição se desenvolve rapidamente ao longo da infância, é importante
investigar se o excesso de peso em qualquer estágio até a pré-adolescência exerce
influência sobre o aprendizado.
E foi exatamente isso a que se propôs uma análise publicada este ano no periódico
Obesity.
De acordo com a publicação, existem vários mecanismos biológicos pelos quais o
sobrepeso precoce pode afetar o neurodesenvolvimento. O tecido adiposo produz
citocinas inflamatórias que ativam vias inflamatórias em crianças e adultos. A
inflamação sistemática pode afetar múltiplas regiões do cérebro que são relevantes
para as habilidades cognitivas, tendo sido demonstrado, em roedores, que ela afeta
adversamente a aprendizagem espacial e a memória.
Além disso, observou-se que a desregulação dos hormônios reguladores do apetite
entre as crianças com excesso de adiposidade pode prejudicar a cognição.
Para o estudo, foram avaliadas 233 crianças de até 8 anos de idade e os resultados
obtidos sugerem que crianças com sobrepeso ou obesas apresentaram menor
velocidade de processamento e resposta cognitiva comparado com crianças dentro
das diretrizes do Índice de Massa Corporal indicado para a idade.
Um dos principais responsáveis seria o GLP-1, um hormônio do trato
gastrointestinal que promove a saciedade e também atua em diversas regiões
cerebrais envolvidas em habilidades cognitivas, como o hipotálamo
e o córtex pré-frontal.
Em roedores, deficiências de grelina e do GLP-1 causou déficits de aprendizado e
memória e os pesquisadores têm boas razões para acreditar que o mesmo ocorre
em crianças com sobrepeso ou obesas.
O excesso de peso precoce também se mostrou inversamente associado ao QI
total, ao raciocínio perceptivo e à memória a longo prazo (em meninos).
Assim, futuros estudos de coorte devem confirmar essas descobertas e investigar
se o IMC infantil está associado ao desempenho escolar, diagnóstico de transtorno
de déficit de atenção e hiperatividade, dificuldades de aprendizagem ou e a
necessidade de programas mais assertivos de educação alimentar na educação
básica.
CONCLUSÃO
Prezar pelo aleitamento materno na infância e limitar o consumo de alimentos ricos
em açúcar e gordura hidrogenada, como refrigerantes, biscoitos e fast food, é
essencial tanto para evitar que as crianças fiquem obesas quanto para reduzir os
níveis atuais da doença.
Isso significa mudar hábitos, educar e, sobretudo, dar o exemplo aos pequenos.
Adultos que seguem um estilo de vida saudável e uma alimentação mais equilibrada
não só transformam sua vida, mas podem ajudar a garantir o bem-estar das
gerações futuras!
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