COVID-19 e obesidade: um dos maiores grupos de risco

COVID-19 e obesidade

COVID-19 e obesidade: um dos maiores grupos de risco

Pessoas com obesidade podem ter graves complicações em decorrência da COVID-19. Entre os fatores de destaque, podemos citar, primeira e principalmente, o aumento do risco das doenças crônicas que a obesidade conduz. 

Além disso, obesos que adoecem requerem cuidados intensivos e específicos, como leitos hospitalares bariátricos, intubações mais desafiadoras, dificuldade de diagnóstico por imagens (há limite de peso no maquinário que as fornecem) e são mais difíceis de serem posicionados e transportados pela equipe de enfermagem. Em um momento em que os hospitais estão sobrecarregados, o desafio de logística pode tomar proporções fora do controle. 

Por fim, o isolamento social está no coração do estigma da obesidade e da depressão. Talvez esses sejam os três principais motivos pelos quais o novo coronavírus pode ser uma condição ainda mais agravante para as pessoas com obesidade. 

Nesse artigo, separamos algumas evidências que possam contribuir para um maior entendimento da situação – e caso você viva com alguém obeso ou tenha propriamente que lidar com as complicações físicas e mentais do sobrepeso, possa se conscientizar do momento delicado que estamos passando e como enfrentá-lo com os melhores cuidados possíveis.

Estudos evidenciam o risco do coronavírus para obesos

Em um estudo com quase 17 mil pacientes com Covid-19 no Reino Unido, aqueles que eram obesos – com um índice de massa corporal (IMC) superior a 30 – tiveram um risco 33% maior de óbito do que aqueles que não eram.

Um outro estudo, separado dos registros eletrônicos de saúde do NHS, registrou que pessoas obesas possuem o dobro do risco de morte pelo novo coronavírus. Se outras condições de saúde relacionadas à obesidade, como doenças cardíacas e diabetes tipo 2, também fossem levadas em consideração, o risco seria ainda maior, segundo os pesquisadores.

Por fim, um último estudo feito com pacientes críticos em unidades de terapia intensiva do Reino Unido descobriu que quase 34,5% estavam acima do peso, 31,5% eram obesos e 7% obesos mórbidos (um total de 73%), em comparação com 26% que tinham um IMC saudável.

Esses números correspondem a 64% da população com sobrepeso ou obesidade na Terra da Rainha – 35% com um IMC de 25 a 29 e 29% com um IMC de 30 ou mais. O índice de massa corporal é calculado como o peso de alguém em quilogramas dividido por sua altura em metros quadrados.

Dadas as altas taxas de obesidade global, a World Obesity Federation diz que uma elevada porcentagem de pessoas que contraem coronavírus “também terão em comum um IMC acima de 25”. Estudos em estágio inicial dos Estados Unidos, Itália e China também sugerem que é um importante fator de risco.

Por que, cientificamente, a obesidade é um risco?

Quanto mais excesso de peso você tiver, mais gordura estará carregando e menor será a sua capacidade pulmonar. É uma luta maior obter oxigênio no sangue, o que afeta o coração e o fluxo sanguíneo.

Isso significa que o sistema passa por uma pressão maior. Eventualmente, o corpo obeso fica sobrecarregado pela falta de oxigênio que chega aos principais órgãos. Essa é uma das razões pelas quais essas pessoas têm maior probabilidade de precisar de assistência respiratória.

Em uma infecção como a do coronavírus, a situação fica mais séria ainda. 

Cientistas descobriram que uma enzima chamada ACE2, presente nas células, é a principal maneira de o vírus entrar no corpo. Foi levantado que níveis mais altos dessa molécula sejam encontrados no tecido adiposo, do qual as pessoas obesas têm mais – sob a pele e ao redor de seus órgãos.

Essa também pode ser uma das razões pelas quais elas têm maior risco de contrair a doença. 

Acima de tudo, a capacidade do corpo de combater o vírus – conhecido como resposta imune – não é tão boa em pessoas obesas. Isso se deve à inflamação causada por células imunológicas chamadas macrófagos, que invadem nosso tecido adiposo. Eles interferem na forma como nossas células respondem à infecção.

Segundo cientistas, isso pode levar a uma “tempestade de citocinas” – uma reação excessiva potencialmente fatal do sistema imunológico, que causa inflamação e danos sérios ao corpo.

Ou seja: menor capacidade de oxigenação, tendência molecular para contrair o vírus e a falta de uma resposta imune, é a receita perfeita para o risco.

Isolamento social, obesidade e depressão

Fora do contexto do coronavírus, obesos já são propensos à exclusão social por causa das normas estéticas da sociedade. Preconceitos e estereótipos podem ficar enfincados na psique daqueles que sofrem de obesidade. Quando aqueles afetados pela estigmatização de seu ambiente social concordam com as atitudes de quem oprime e se culpam por estarem acima do peso, ocorre uma internalização das atitudes estigmatizantes. 

Isso causa depressão, ansiedade e solidão. Em um contexto de isolamento social, isso pode ser maximizado e levado a um ponto de negativas reflexões. As relações sociais são uma componente fundamental da nossa vida. Uma boa rede de amigos, familiares, pessoas que nos deem suporte e que refletem connosco as nossas opções são determinantes nas nossas trajetórias e por isso também, na nossa saúde mental. 

Peça ajuda. Existe uma rede de profissionais que se colocaram à disposição para atender pessoas nesse momento de crise. Não tenha receio de recorrer a eles caso perceba o surgimento ou agravamento de um quadro de depressão e ansiedade. Isso ajudará você a entender suas emoções nesse momento, a identificar pensamentos que trazem preocupação e a lidar com tudo isso de uma forma mais serena e positiva. Embora o medo exista, uma boa terapia é uma maneira eficiente de não deixá-lo paralisar sua vida e destruir o fio condutor que te carrega todos os dias.

O momento não necessita de maior pressão, mas cuide-se!

O consumo variado de alimentos aumenta a absorção de nutrientes, o que impacta diretamente no sistema imunológico. Diante de tudo que falamos, talvez essa seja a principal orientação. Já que estamos em casa, o ideal é utilizar desse tempo para produzir nossas próprias refeições. Além de melhorar a qualidade do consumo, o ato de cozinhar pode ser terapêutico.

O comer, muitas vezes, se configura em “engolir” as próprias emoções, a fim de escondê-las, porém, elas existem para serem sentidas e ressignificadas. É importante nos darmos conta desse movimento disfuncional e da necessidade desse sentir para que possamos quebrar esse ciclo e que tenhamos uma nova postura frente às nossas emoções e às reais necessidades do nosso corpo.

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